14.7.06

SPFW busca inspiração na cultura africana do passado e do presente

12/07/2006 - 09h38
ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
da Folha de S.Paulo

A São Paulo Fashion Week, que começou quarta (12-07) e segue até a próxima terça, ganhou uma imprevista tonalidade política. Ao eleger a cultura africana como tema do evento, a semana de moda jogou luz, para o mundo fashion, sobre a questão racial no Brasil, justamente no momento em que o país discute a adoção de cotas para negros nas universidades públicas.

O empresário Paulo Borges, organizador da São Paulo Fashion Week, diz que ainda não tem opinião formada sobre o assunto, mas acredita que, "se [as cotas] são algo que abrem possibilidades para as pessoas, elas só podem ser válidas".

Como todo o país, os estilistas também se dividem sobre o tema. Modelos negros, por sua vez, defendem as cotas. Para a top Emanuela de Paula, o projeto "é um bom incentivo na luta contra o preconceito".

Durante sete dias, serão apresentadas 48 coleções de 45 grifes, que prometem um verão de imagem forte, cores vivas e comprimentos reduzidos. No embalo da África, as misturas de estilos e culturas estão em alta. Na política fashion, a miscigenação é hype.

Redescobrindo a África

Em busca de sua identidade --muito discutida mas de contornos ainda pouco definidos--, a moda brasileira foi procurar na África as pistas sobre suas raízes e o seu futuro. Esse movimento de reaproximação com o continente não é inédito, mas aparece agora com novo foco: a prioridade não é listar elementos de heranças tribais, mas descobrir a cara mais pop da África contemporânea.

Moda e política

O destaque dado à África e à cultura negra na SPFW ganhou um imprevisto rumo político na última semana, com as discussões a respeito da criação de cotas para afro-descendentes nas universidades.

Como no Congresso, os fashionistas também estão divididos a respeito. "Sou a favor, mas não só na universidade. Tem que começar na pré-escola, onde se inicia o Apartheid", diz Ronaldo Fraga. "Defendo os aspectos positivos das cotas, mas só isso não resolve a situação. Precisamos de um trabalho de base na educação", afirma Mario Queiroz.

Já Clô Orozco e Amir Slama --que transferiu o desfile da Rosa Chá para Nova York e participa apenas com a Sais, sua segunda linha-- são contra as cotas, que, para eles, podem aumentar o preconceito. "Deveria ser levado em conta o grau de pobreza e não o elemento racial", afirma Slama, que já foi professor de história.

Paulo Borges ainda não tem uma posição pessoal sobre as cotas, mas comemora o fato de seu evento abrir certo espaço para discussões sociais. "Não é nossa intenção fazer política, mas somos também uma espécie de alto-falante para a vida brasileira. A moda não é algo que se esgota nela mesma."

O quente do verão

Polêmicas à parte, na passarela o clima será de muito calor e muita cor. Os vestidos são destaque, e os comprimentos anunciam um verão ultraquente. "O desejo pelos curtos vem com força total", adianta Clô.

Já os biquínis, como se viu no Fashion Rio, crescem um pouco. "O conforto vem tomando o lugar dos modismos. As peças de banho estão ficando maiores", diz Amir Slama. Para o estilista, a cara da praia está mudando. "Estamos vendo um novo conceito de sensualidade."

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