Nem todos os moradores de Aparecida, a 170 km de São Paulo, esperam com ansiedade o Papa Bento XVI.
Fiéis de outras religiões manterão sua rotina, com encontros nos dias em que o pontífice estiver na cidade entre 11 e 13 de maio e nada de visitas aos locais onde o papa estará. Há, porém, uma exceção. Freqüentadores da umbanda estão tão empolgados com a visita que até pretendem participar da festa católica.
- Não vou me sentir mal com visitantes enviados por Deus - afirma o pai-de-santo José André, de 71 anos.
Conhecido na cidade como pai Antonio de Aruanda, ele é dono do terreiro mais antigo de Aparecida, inaugurado há 40 anos. Pai Antonio explica que tem duas religiões e, por isso, jamais deixou de ser católico.
- A gente vai na missa. Quando estou sem fazer nada em casa, vou para a igreja - conta.
O pai de santo já saiu até em procissões católicas. Na última, inclusive, foi escolhido para sair vestido como São Benedito.
Origem nos escravos
A umbanda é uma religião afro-brasileira. Suas origens estão ligadas aos quilombolas, que abrigavam escravos foragidos no século 17. O culto nos terreiros costuma girar ao redor de consultas com entidades como o preto velho para pedir conselhos e descarregar a energia negativa.
André adiantou que estará na missa ao livre celebrada pelo Papa, em 13 de maio.
A alegria e o respeito são tão fortes que André contou que havia um encontro de pais-de-santo previsto para o dia 13 em Aparecida. Devido à visita do papa, a reunião foi adiada em um dia, para 14 de maio.
O aposentado Joaquim Ângelo, de 66 anos, freqüenta terreiros de umbanda há mais de 40 anos e jamais pensou em abandonar o catolicismo.
- Uma religião entrelaça na outra. Assim, fica mais forte e me protege melhor - conta.
Apesar de não participarem da festa para o Papa, líderes de outras religiões afirmam que não têm preconceitos.
- Prefiro ter alegria pelo que a cidade vai ganhar com a visita - diz o ancião da Igreja Adventista do Sétimo Dia, José Antonio Galhardo, de 57 anos.
- O evangélico, o protestante e o católico seguem os mesmos ensinamentos - diz o ancião das Testemunhas de Jeová, Marcos Abreu, de 55.
Evangélicos manterão a rotina
Evangélicos e protestantes que moram em Aparecida não pretendem mudar sua rotina por causa da visita do Papa. Os integrantes da comunidade de Testemunhas de Jeová, por exemplo, afirmam que o Papa é um homem como qualquer outro e, por isso, não vêem motivo para tanta mobilização.
- Mas amamos todas as pessoas. Jamais vamos atrapalhar a festa dos católicos - diz Marcos Abreu, de 55 anos, ancião da igreja.
Para membros da Congregação Cristã no Brasil, o sentimento é o mesmo: nada de atrapalhar a festa católica.
- Somos neutros. Condeno quem julga as religiões como certas ou erradas. Todas buscam Deus - diz um dos líderes.
A dona-de-casa Neide Oliveira Abreu, de 56 anos, segue as testemunhas e conta que não mudará a rotina diária para a visita de Bento XVI.
- É um ser humano qualquer. O mais importante é seguir Jesus.
A empresária Leila de Freitas Oliveira, de 50, é adventista do sétimo dia, mas vai receber parentes católicos enquanto o papa estiver em Aparecida.
- O respeito existe. Prova de que estamos em uma cidade católica e somos todos bem tratados - diz
Outra dona-de-casa, Maria Diniz dos Santos, de 43 anos, viu o Papa João Paulo II em 1980, mas não pretende repetir a experiência neste ano.
- Mas a gente não se opõe à nada.
Fonte: O Globo Online
8.5.07
Festa católica empolga umbandistas em Aparecida
Festa católica empolga umbandistas em Aparecida
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