24/03/2007
Judeus já não buscam a Terra Prometida
Israel enfrenta graves dificuldades para atrair imigrantes judeus da Europa e dos EUA
Juan Miguel Muñoz
Em Jerusalém
Theodor Herzl criou o sonho sionista no final do século 19, as Nações Unidas decretaram a divisão da Palestina em novembro de 1947 e David Ben Gurion fundou o Estado judeu seis meses depois. O século 20 foi, com altos e baixos, o de uma emigração maciça para Israel, impulsionada pelo Holocausto, a desintegração da União Soviética, as pressões demográficas e, em menor medida, os desastres econômicos como o da Argentina cinco anos atrás. As estatísticas hoje não deixam margem para dúvidas: a redução dos imigrantes é constante há 15 anos. Somente 20 mil no ano passado. A Agência Judia, órgão competente para fomentar a Aliya (emigração para viver no Estado hebreu), se esforça para adaptar-se aos novos tempos.
"Durante uma década nos concentramos nos emigrantes da antiga União Soviética. Hoje temos de trabalhar duro com os judeus da Europa, EUA e Canadá. Na Rússia e nos países da antiga URSS vivem 800 mil pessoas que poderiam vir para Israel porque a Lei de Retorno o permite. Mas os que desejavam vir já o fizeram. A situação econômica melhora e eles não emigram mais", afirma Michael Jankelowitz, porta-voz da agência.
Com um orçamento de 300 milhões de euros, quase dois terços deles em contribuições de judeus americanos, esse órgão se desdobra para captar imigrantes. A preocupação com o enorme crescimento demográfico dos países árabes vizinhos é palpável na vida política israelense.
O ministro da Absorção, Zeev Boim, acaba de realizar uma viagem aos EUA para tentar convencer os israelenses que moram lá sobre a conveniência de regressar. O que para alguns países é uma bênção representa um contratempo para a agência. "Hoje temos um problema: a assimilação na Europa e nos EUA. Muitos abandonam a identidade judia. Por isso Israel deve ser o lugar em que os jovens mantenham essa identidade", salienta Jankelowitz. Mas agora é preciso ir buscá-los. Daí o nascimento do programa Birthright (direito de nascimento), pelo qual 100 mil jovens entre 18 e 26 anos foram convidados nos últimos cinco anos a visitar Israel durante dez dias. Ou o plano Masa, criado por Ariel Sharon, que permite que estudantes e voluntários vivam entre seis meses e um ano em Israel e aprendam hebraico.
Yoav Peled, professor de ciências políticas na Universidade de Tel Aviv, é categórico e nada contra a corrente: "O sionismo nunca teve grande crédito. Os que vieram o fizeram forçados, por necessidade. O filão está esgotado. Restam muitos judeus nos EUA e na França, mas poucos querem vir para Israel. Há os que trabalham em Paris ou Londres e só vêm nos fins de semana. Os argentinos deixaram de emigrar. Alguns o fizeram durante a repressão dos anos 70 e outros depois da crise econômica provocada pelo 'corralito'. Os atentados ou a guerra do último verão no Líbano também freiam a imigração, mas o que sempre contou é ter uma razão para abandonar o país de origem".
No passado podem ter sido o componente ideológico, as razões políticas ou religiosas que tentavam os judeus a se estabelecer em Israel. Hoje são poucos os que aterrissam no aeroporto de Ben Gurion em Tel Aviv com a bandeira do ideal sionista. "O emigrante não busca realizar o sonho de Herzl. Temos de lhe oferecer a possibilidade de realizar seus objetivos. Devemos conseguir que este país seja atraente, vender o produto Israel", aponta Jankelowitz. "É preciso fazer ver que nem tudo é conflito com os árabes, que existe o Macabbi de Tel Aviv, que nossos acadêmicos ganham prêmios Nobel", acrescentou o porta-voz da Agência Judia.
Jankelowitz é partidário de facilitar ao máximo a abertura. Por isso rejeita as pretensões dos setores ultra-ortodoxos, dirigidos pela Halacha, a estrita lei religiosa, na hora de determinar quem é judeu. Os rabinos mais fundamentalistas exigem que só seja considerado judeu quem tiver nascido de mãe judia. A agência pretende favorecer um critério mais brando: basta comprovar que se tem um avô judeu para herdar essa condição. Entre o milhão de russos que imigraram na década de 90, cerca de 300 mil são cristãos. Mas se facilita sua conversão. "Talvez eu tivesse viajado para a Espanha se tivesse me aberto as portas como Israel abriu", afirma Adrian, um jovem recém-chegado.
Alberto Spectorovsky, professor da Universidade de Tel Aviv, afirma que "Israel deve continuar sendo um refúgio para os judeus do mundo inteiro". "Mas existe uma contradição: se há um lugar onde a vida judia corre perigo é em Israel. O sionismo não é garantia de segurança, mas pelo menos temos capacidade de resposta. Mais de mil anos de história demonstram que precisamos proteger nossas costas", acrescenta.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Judeus já não buscam a Terra Prometida
Israel enfrenta graves dificuldades para atrair imigrantes judeus da Europa e dos EUA
Juan Miguel Muñoz
Em Jerusalém
Theodor Herzl criou o sonho sionista no final do século 19, as Nações Unidas decretaram a divisão da Palestina em novembro de 1947 e David Ben Gurion fundou o Estado judeu seis meses depois. O século 20 foi, com altos e baixos, o de uma emigração maciça para Israel, impulsionada pelo Holocausto, a desintegração da União Soviética, as pressões demográficas e, em menor medida, os desastres econômicos como o da Argentina cinco anos atrás. As estatísticas hoje não deixam margem para dúvidas: a redução dos imigrantes é constante há 15 anos. Somente 20 mil no ano passado. A Agência Judia, órgão competente para fomentar a Aliya (emigração para viver no Estado hebreu), se esforça para adaptar-se aos novos tempos.
"Durante uma década nos concentramos nos emigrantes da antiga União Soviética. Hoje temos de trabalhar duro com os judeus da Europa, EUA e Canadá. Na Rússia e nos países da antiga URSS vivem 800 mil pessoas que poderiam vir para Israel porque a Lei de Retorno o permite. Mas os que desejavam vir já o fizeram. A situação econômica melhora e eles não emigram mais", afirma Michael Jankelowitz, porta-voz da agência.
Com um orçamento de 300 milhões de euros, quase dois terços deles em contribuições de judeus americanos, esse órgão se desdobra para captar imigrantes. A preocupação com o enorme crescimento demográfico dos países árabes vizinhos é palpável na vida política israelense.
O ministro da Absorção, Zeev Boim, acaba de realizar uma viagem aos EUA para tentar convencer os israelenses que moram lá sobre a conveniência de regressar. O que para alguns países é uma bênção representa um contratempo para a agência. "Hoje temos um problema: a assimilação na Europa e nos EUA. Muitos abandonam a identidade judia. Por isso Israel deve ser o lugar em que os jovens mantenham essa identidade", salienta Jankelowitz. Mas agora é preciso ir buscá-los. Daí o nascimento do programa Birthright (direito de nascimento), pelo qual 100 mil jovens entre 18 e 26 anos foram convidados nos últimos cinco anos a visitar Israel durante dez dias. Ou o plano Masa, criado por Ariel Sharon, que permite que estudantes e voluntários vivam entre seis meses e um ano em Israel e aprendam hebraico.
Yoav Peled, professor de ciências políticas na Universidade de Tel Aviv, é categórico e nada contra a corrente: "O sionismo nunca teve grande crédito. Os que vieram o fizeram forçados, por necessidade. O filão está esgotado. Restam muitos judeus nos EUA e na França, mas poucos querem vir para Israel. Há os que trabalham em Paris ou Londres e só vêm nos fins de semana. Os argentinos deixaram de emigrar. Alguns o fizeram durante a repressão dos anos 70 e outros depois da crise econômica provocada pelo 'corralito'. Os atentados ou a guerra do último verão no Líbano também freiam a imigração, mas o que sempre contou é ter uma razão para abandonar o país de origem".
No passado podem ter sido o componente ideológico, as razões políticas ou religiosas que tentavam os judeus a se estabelecer em Israel. Hoje são poucos os que aterrissam no aeroporto de Ben Gurion em Tel Aviv com a bandeira do ideal sionista. "O emigrante não busca realizar o sonho de Herzl. Temos de lhe oferecer a possibilidade de realizar seus objetivos. Devemos conseguir que este país seja atraente, vender o produto Israel", aponta Jankelowitz. "É preciso fazer ver que nem tudo é conflito com os árabes, que existe o Macabbi de Tel Aviv, que nossos acadêmicos ganham prêmios Nobel", acrescentou o porta-voz da Agência Judia.
Jankelowitz é partidário de facilitar ao máximo a abertura. Por isso rejeita as pretensões dos setores ultra-ortodoxos, dirigidos pela Halacha, a estrita lei religiosa, na hora de determinar quem é judeu. Os rabinos mais fundamentalistas exigem que só seja considerado judeu quem tiver nascido de mãe judia. A agência pretende favorecer um critério mais brando: basta comprovar que se tem um avô judeu para herdar essa condição. Entre o milhão de russos que imigraram na década de 90, cerca de 300 mil são cristãos. Mas se facilita sua conversão. "Talvez eu tivesse viajado para a Espanha se tivesse me aberto as portas como Israel abriu", afirma Adrian, um jovem recém-chegado.
Alberto Spectorovsky, professor da Universidade de Tel Aviv, afirma que "Israel deve continuar sendo um refúgio para os judeus do mundo inteiro". "Mas existe uma contradição: se há um lugar onde a vida judia corre perigo é em Israel. O sionismo não é garantia de segurança, mas pelo menos temos capacidade de resposta. Mais de mil anos de história demonstram que precisamos proteger nossas costas", acrescenta.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário