Às 18h30 dia 10 de outubro de 2006, Aline Pereira Nogueira, mãe da pequena Maria Luiza Nogueira, a Malú, recebe um último telefonema dos negociadores do Tático Integrado Grupo de Resgate (Tigre). Do outro lado o agente informa: “Aline, temos uma pessoa aqui que quer falar com você”. Após dois segundos de silêncio, que mais pareciam uma eternidade, ouve-se uma voz infantil do outro lado: “Alô, mamãe quero você, vem pegar eu (sic)”. Era Malú. O seqüestro que mobilizou a população alagoana e que durou exatos dez dias havia chegado ao fim.
Duas horas depois, Malú e a mãe se reencontravam no hospital da Unimed. A pequena menina de dois anos de idade não apresentava seqüelas e nem perda de peso. Segundo a mãe, a garota ainda foi capaz de fazer amizade com uma das mulheres responsáveis pelo cativeiro e dia depois reconheceu os seqüestradores, nas fotos estampadas pelos jornais. Maria Luiza – conforme Aline Nogueira – pouco fala sobre a experiência vivida e não apresenta sinais de “fobia”. “Às vezes ela se assusta um pouco quando vê a casa muito vazia”.
Durante a coletiva, concedida agora há pouco, a mãe de Malú disse que a garotinha que conquistou Alagoas teve um Dia das Crianças maravilhoso, rodeada pela família, para matar as saudades e que recebeu diversos presentes e cartas de desconhecidos, que foram solidários à dor da família, enquanto durou o seqüestro. “Agradeço inclusive este apoio e a presença da imprensa. A mobilização da opinião pública manteve minha filha em segurança. É preciso também ressaltar a importância do trabalho integrado da Polícia Civil. Não posso falar sobre detalhes da negociação porque as investigações ainda estão acontecendo”.
Aline Nogueira conta que desde o momento em que Malú foi seqüestrada até o primeiro contado dos criminosos foram quatro dias de espera. Ela revelou ainda que os contatos não foram diários e sempre eram feitos diretamente com a equipe anti-seqüestro do Tigre. “O importante é que agora a Malú está bem. Só um pouco assustada às vezes. Mas não há sinais de violência. Pensei várias vezes que nunca mais iria revê-la. Eu pouco comi e quase não dormi durante estes dias”.
A mãe da garota disse que não pensa em vingança, mas que é “impossível perdoar os seqüestradores”. Indagada sobre o que falaria se estivesse cara-a-cara com os responsáveis pelo seqüestro de sua filha, Aline Nogueira diz que não saberia o que falar. “Agora queremos nos resguardar e tentar retomar a vida normalmente. Estou deixando a Malú mais solta. Quero voltar a ter uma vida normal, não sei se vai ser possível”, desabafou.
Para Aline Nogueira, seria apenas um assalto, mas os bandidos acabaram trocando tiros com seu marido e levando Malú, depois da reação. Ela falou que durante o processo os criminosos chegaram a pedir o afastamento da imprensa e da Polícia Civil, o que foi divulgado nos jornais, mas as forças da segurança pública nunca se afastaram de fato.
Os contatos continuaram sendo feitos, mas a mãe não sabe informar se sempre eram feitos pela mesma pessoa. “O que posso dizer para quem se encontra em situação parecida é confiar no trabalho da polícia e entregar na mão de Deus. Hoje, enxergo a religião de uma outra forma. Isto tudo mudou muito a minha vida. Pedi muito para que Deus tocasse o coração das pessoas que fizeram isto. Orei muito e outras pessoas espalhadas pelo Brasil também rezaram e agradeço. Aliás, ainda peço para que os corações deles sejam tocados, mas não consigo perdoar. Sou sincera”.
Aline Nogueira cogita a hipótese de Malú e a família ter uma ajuda psicológica, mas que isto não está acontecendo no momento. A pequena Malú está retornado à rotina aos poucos. “Estou deixando ocorrer normalmente. Ainda não tive tempo de ir às ruas com ela, ou sozinha. Ontem, por ser o dia da criança, resolvi passar ao ladinho dela. A família é grande e a casa estava muito cheia. Agradeço a todos. Houve muitos trotes. Cerca de 80% das ligações eram trotes, mas houve também solidariedade e sei que muita gente rezou muito para que eu reencontrasse minha filha. Obrigada”, finalizou.
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