10.11.06

(Cristianismo Pleno) Halloween e a Reforma - por e-mail

----------------------------------------
Halloween e Reforma
Mauricio Andrade


No dia 31 de Outubro, em diversas partes do mundo, haverá duas celebrações bastante diferentes entre si - o Halloween e a Reforma Protestante. Gostaria de, nesta semana, refletir um pouco sobre as duas por uma razão que julgo muito importante: o esquecimento (e o completo desconhecimento), por parte de muitos cristãos do que foi e significou a
Reforma; e o aumento, cada vez mais notório, das celebrações vinculadas ao Halloween em nosso país (seguindo a mesma trilha pela qual já passaram os norte-americanos).

A celebração mais antiga do Halloween teve lugar entre os Celtas, que viveram a mais de 2000 anos na região onde hoje se encontram Inglaterra, Irlanda, Escócia e o noroeste da França. Os sacerdotes celtas, chamados druidas, costumavam honrar Samhain, deus dos mortos, ao entardecer do dia 31 de outubro e no dia 1º de novembro. De acordo com a lenda Celta, Samhain controlava os espíritos dos mortos e tinha poder tanto para permitir que eles descansassem em paz como para fazê-los aterrorizar os vivos durante aquela noite.

No século XIX, imigrantes irlandeses levaram o feriado para a América do Norte, onde ele gradualmente se tornou uma celebração nacional. A Reforma Protestante, no séc. XVI, foi a expressão da intervenção de Deus na história, vitalizando sua igreja e trazendo seu povo de volta à solidez de sua eterna Palavra. Foi um momento difícil para líderes
verdadeiramente cristãos que, envolvidos numa terrível batalha pela verdade, tiveram que lutar, ainda, contra suas próprias imperfeições, mas que lograram, pela graça de Deus, manter viva a chama do Evangelho eterno. Ninguém que tenha sido salvo pela graça estuda aquele período sem sentir seu coração aquecer de gratidão a Deus pelo cuidado demonstrado para com sua Igreja.

Infelizmente, o espírito que caracteriza toda virada de século, unido à virada de milênio, tem afetado até os filhos da luz. Esquecendo-se dos grandes feitos de Deus na história, agem como se esta geração se constituísse no início do trabalho do Senhor. Alguns dão a impressão de que o cristianismo começou no Brasil nestas últimas três ou quatro
décadas. Esquecendo-se das antigas e sólidas doutrinas que sustentaram a igreja durante toda sua existência entregam-se a novidades sem questionarem suas origens, quase sempre visando somente os resultados. Seria prudente escutar o que diz o texto bíblico e não imitar o triste procedimento do povo de Deus no passado: "Assim diz o Senhor: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas; mas eles
dizem: Não andaremos." (Jr 6.16)

A Bíblia ensina que os que amam ao Senhor amam a história de seus poderosos feitos!

Segue a 2ª parte do artigo.

Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram de fato assim.(At 17.11) Há alguns meses, conversei com irmãos americanos especificamente sobre a festa do Halloween e como tem sido seu impacto sobre a igreja naquele
país. Queria saber como as igrejas encaravam as atividades e brincadeiras feitas nessa data. A resposta deixou claro que, como ocorre no Brasil com várias datas especiais, o comércio é uma força enorme por trás de muito que se faz em torno da festa. Além disso, ficou óbvio que, mesmo as igrejas mais conservadoras começam a permitir que suas crianças participem das atividades alegando, sobre tudo, que "não há nada de mais ...". Vocês já devem ter ouvido em algum filme a frase "doces ou travessuras?" (Trick or treat?) ditas por crianças fantasiadas a caráter (bruxas, duendes, monstros, etc). E qual seria o problema?
 
Creio haver uma grande distinção entre a participação consciente em atividades que fazem parte da cultura de um povo e o envolvimento ingênuo e descuidado em qualquer atividade. Novamente, deixamos de fazer as perguntas importantes. Se, com relação aos feitos poderosos de Deus esquecemos de perguntar pelas 'antigas veredas', agora, imprudentemente, não perguntamos pelo significado, origem, propósito e desdobramentos daquilo em que, muitas vezes, nos envolvemos. Não é assim que devem proceder os filhos da Luz.

Por outro lado, a Reforma Protestante foi exatamente uma época de questionamentos: por que a tradição deveria ter tanta autoridade quanto a Palavra de Deus? que autoridade tinha o papa para "conceder" indulgências? qual a verdadeira relação entre a salvação e as obras? e entre a fé e a justificação? por que o povo deveria ficar afastado da
Bíblia e sem ter capacidade para lê-la? o que ensinaram e fizeram os Apóstolos a respeito dessas questões?

Infelizmente, temo que no próximo dia 31, poucos se importarão de perguntar pelo real sentido e propósito da Reforma do séc. XVI e o seu significado para nós, hoje. Também receio que alguns, por descuido e por se deixarem levar pela 'teologia' do "que é que tem de mais?", se sintam um pouco mais à vontade, senão com o Halloween, talvez com qualquer prática estranha à igreja, sem os devidos questionamentos.

Que grande exemplo o daqueles judeus de Beréia: questionaram os acontecimentos através das Escrituras!

Durante a Reforma, homens e mulheres de Deus semearam boa semente para as gerações vindouras. O salmista também tinha a preocupação de passar às vindouras gerações o conhecimento dos feitos do Senhor (Sl 78.3-4). E nós? Que semente estamos plantando para os nossos filhos e filhas?

Segue a 3ª parte do artigo.
 
"Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chama. Um pouco de fermento leveda toda a massa." (Gl 5.7-9)

O gato preto é um dos símbolos do Halloween. Os celtas acreditavam que os bichanos eram pessoas transformadas por magia negra. O sincretismo dessa crença com o pensamento católico medieval fez do gato preto o companheiro inseparável das bruxas. A lenda ainda veio dizer, mais tarde, que as próprias bruxas se transformavam em gatos. O que nos interessa aqui é observar como o cristianismo, separado da âncora da Palavra Eterna, pode se misturar (e freqüentemente o faz) a quaisquer idéias de cunho sobrenatural, místico e religioso.

Refletir sobre Halloween e Reforma nos levará, em algum momento, a pensar na questão de como pequenas coisas, insignificantes, que fazem parte do grupo do "que é que tem de mais?" acabam se tornando parte importante de nosso pensamento, cultura e mesmo doutrina. Deus, que conhece o coração humano, demonstrou cuidado com Sua igreja ao fazer o apóstolo escrever o texto citado no início - "...um pouco de fermento...". Temos a tendência de vigiar a aproximação dos grandes perigos, ignorando, muitas vezes, as
sutilezas do engano que, pouco a pouco, vão minando a verdade. Em geral, todo crente ao se converter, tende a pensar que a totalidade do cristianismo é constituída pelo microcosmo de sua igreja/denominação. Não levado a valorizar a história (os poderosos feitos de Deus), demora a aprender a identificar as pequenas variações na verdade que, no devido tempo, darão lugar à mentira. A busca por resultados rápidos, a ânsia por projeção e poder de alguns líderes e a fascinação diante de "novas" revelações, preparam o terreno fértil para o erro. É interessante (e benéfico) observar as perguntas feitas pelo apóstolo à igreja da Galácia: "Quem vos impediu...?" (5.7), "Quem vos fascinou...?" (3.1), bem como a assertiva "Esta persuasão não vem daquele que vos chama!" (7.8).

No século XVI, Deus interveio na vida de seu povo e aguçou a mente e o coração de seus servos com estas e outras importantes questões. O resultado foi um retorno às antigas e sólidas doutrinas da Palavra. Seria uma excelente idéia celebrarmos a reforma, no próximo dia 31, refletindo um pouco sobre o atual momento da igreja. Sem nos deixarmos levar pela euforia, olhar com gratidão o que Deus fez no passado e, com santo zelo observar o presente, filtrando com as Escrituras nossa prática da igreja, neste início de século.

Lancemos fora todo o fermento!

Segue a 4a parte IV)

Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.
(Jr. 2.13)

Cem anos antes da Reforma, John Huss foi martirizado ao pregar doutrinas semelhantes às de Martinho Lutero; Quando Lutero afixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha, no dia 31 de outubro de 1517, ele estava usando um procedimento comum na época: chamando outros à discussão daqueles temas. Exceto uns poucos acadêmicos, ninguém apareceu, no entanto; Alguns homens copiaram as teses de Lutero e as fizeram imprimir (a imprensa havia sido inventada em1448, por Johann Gutenberg). Foi assim que elas começaram a agitar a igreja na Europa; A principal questão levantada por Lutero foi a da Justificação pela Fé Somente. Mais tarde o reformador diria: "Sobre essa doutrina a igreja fica de pé ou cai!";

O mote dos reformadores e seus sucessores, que expressava bem as fontes onde se devia buscar base para qualquer ensino na igreja, é traduzido assim: "Somente as Escrituras, Somente pela Fé, Somente a Graça, Somente em Cristo, Só a Deus a Glória!" (Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solo Christo, Soli Deo Gloria!);

A Reforma não revigorou somente a igreja. Na área da educação, das ciências (física, química, biológica), da medicina, da política e várias outras, toda a sociedade sentiu os efeitos libertadores da aplicação prática da Bíblia à vida cotidiana;

A Reforma foi, sem dúvida, um avivamento. E, como todo genuíno avivamento, um retorno. Retorno à antiga Fé; à Eterna Palavra; ao primeiro amor; às antigas doutrinas. Um consciente e decidido abandono das "cisternas rotas" e um não menos decidido retorno ao Manancial de Águas Vivas. Não se tratou de descobrir coisas novas, e sim de
redescobrir as antigas. Só poderemos olhar o futuro com confiança e verdadeira esperança se nossas raízes estiverem bem firmes nas Promessas feitas na antigüidade. O apóstolo insta conosco para reavaliarmos nossa fé e nosso caminho (II Co 13.5). Não se trata de saudosismo nem mórbida nostalgia. Os convites, nas Escrituras, para olharmos nossas origens são muitos. No Antigo Testamento "O Deus que te tirou da terra do Egito..." era a base sobre a qual os profetas chamavam o povo de Deus ao arrependimento e renovação de sua fé. Desde de a era apostólica a obra perfeita, completa e suficiente de Cristo na cruz tem sido essa base.

Retornemos sempre ao Rio de Deus!

Uma abençoada celebração da Reforma!

Nenhum comentário: